Antiga sede da Telesc é agora parte do campus da UDESC em Florianópolis
por Leonardo Bertoldi Borges @floripa_moderna
Trecho da fachada frontal da atual UDESC. Foto: Camila Alba, 2022.
Em especial a partir da década de 1940, a modernidade da arquitetura brasileira passou a ser conhecida e respeitada internacionalmente. A mostra “Brazil Builds – Architecture New and Old 1652 – 1942” e o livro-catálogo de mesmo nome, ambos de Phillip Goodwin, foram produzidas pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque – MoMA e responsáveis por divulgar projetos de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Gregori Warchavchik e tantos outros, não só para o continente Americano, mas também para Europa e África. (SCOTTÁ, 2019)
Posteriormente, se junta a esse grupo de célebres arquitetos e suas obras um conjunto que ficou conhecido por muitos como “brutalista”, ou, escola paulista. Obras de Lina Bo Bardi, Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha se tornaram referências definitivas da arquitetura brasileira do século XX.
No sul do país, Florianópolis nunca foi conhecida por seu conjunto de arquiteturas modernas, apesar de possuir um amplo acervo de qualidade plástica e funcional. É o que indicam pesquisas sendo conduzidas por esse e outros autores, ampliando bibliografias publicadas, principalmente, a partir de 2002. Projetos das mais variadas escalas e soluções foram desenhados e executados na capital catarinense, compondo uma modernidade diversa e particular.
Os edifícios institucionais em concreto aparente, projetados entre décadas de 1960 e 1980, se tornaram marcos desse momento da história da cidade. Dentre eles, a sede administrativa da companhia de Telecomunicações de Santa Catarina S/A – TELESC, empresa estatal de telefonia do Estado. Inicialmente constituída como Companhia Telefônica Catarinense – COTESC, operadora particular de telecomunicações, a empresa foi federalizada em 1973 e no ano seguinte passa a se chamar TELESC. (DAMIÃO, 2014)
“A sede da Telesc no Itacorubi foi o primeiro dos projetos institucionais em concreto aparente construídos naquele bairro na década de 1970. Antes dele, o governo catarinense já havia transferido ou instalado diversos órgãos estaduais relacionados às atividades agropecuárias para a região, no entanto, apenas em 1976, com a inauguração do edifício da TELESC, se vê no bairro um exemplar do modelo arquitetônico em concreto aparente que vinha se disseminando pela cidade.” (MATTOS, 2009. p.191)
O edifício é um dos tantos exemplares da arquitetura moderna de Florianópolis, mais especificamente de um momento conhecido como “brutalista”. A tecnologia do concreto armado, utilizado de forma aparente para compor toda a extensão da obra, marcou definitivamente a arquitetura da década de 70 na cidade. Isso se observou principalmente nos edifícios institucionais, mas também na iniciativa privada, como é o caso do Ceisa Center e do Edifício Gemini, ambos da construtora Ceisa e projetos do escritório Liz Cassol Monteiro, e ainda nas residências unifamiliares.
O arquiteto Odilon Monteiro, então funcionário do Estado, é chamado para projetar dois edifícios da COTESC/TELESC em Florianópolis, a sede administrativa no Itacorubi e a sede operacional no centro da cidade – atualmente Banco Safra. Após algumas parcerias de trabalho com Moysés Liz, também arquiteto do estado, Monteiro o convida para projetar os dois edifícios, ambos datados de 1974.
Com formato peculiar em ‘’Y’’, além da influência de projetos do arquiteto húngaro Marcel Breuer, o projeto foi idealizado como um grande escritório panorâmico, com planta livre, isto é, sem paredes ou divisórias, e a modulação da estrutura do edifício disposta conforme os espaços de trabalho da empresa. Sugeriu-se então a divisão em três alas distribuídas ao redor de um núcleo central de circulação vertical, com escadas, elevador, sanitários e áreas técnicas. O formato do edifício viria posteriormente a inspirar a logo da TELESC, eternizada nas ruas da cidade nas caixas de infraestrutura, algumas ainda existentes.
Uma das inovações técnicas e plásticas do projeto é a incorporação de elementos pré- -fabricados, que compõem toda a extensão das três fachadas da obra. Trata-se do notório “brise-soleil”, ou no Brasil, brise, elemento de controle da incidência solar dentro da edificação. Liz conta que foi neste projeto que os autores empregaram pela primeira vez o uso desse tipo de elemento, algo que viriam a utilizar com frequência em muitos de seus projetos. (BORGES, 2024)
Após ser privatizada no governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1998, a TELESC foi vendida para a Brasil Telecom, que posteriormente passa a ser denominada “Oi”. (DAMIÃO, 2014) Em 2019 o prédio é comprado pela UDESC, que inicia projetos de reforma do local para abrigar alguns usos administrativos, principalmente a Reitoria.
Quem passa pela Avenida Madre Benvenuta, talvez não se dê conta da preciosidade que este edifício representa, do ponto de vista histórico e arquitetônico para a cidade. Sua manutenção e atualização para novos usos é fundamental para manter funcionando uma das tantas joias da arquitetura da cidade, ainda pouco conhecida e difundida. Muito do que se projetou e construiu em Florianópolis, dentro de uma ideia de modernidade, hoje faz parte do cenário urbano e do cotidiano da população. Precisamos ampliar os debates e furar as bolhas da arquitetura, para sensibilizar e compreender melhor essa produção, tão singular e tão complexa, hoje já consolidada na paisagem da capital catarinense.
BORGES, Leonardo Bertoldi (2024). Perspectivas do moderno: a obra de Liz, Cassol e Monteiro em Florianópolis (1961 – 1988). Dissertação (mestrado). Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2024. No prelo.
DAMIÃO, Carlos. A história sob os nossos pés. ND+, Florianópolis, 12/07/2014. Disponível em: . Acesso em 18/09/2022.
MATTOS, Melissa Laus (2009). Arquitetura institucional em concreto aparente e suas repercussões no espaço urbano de Florianópolis entre 1970 e 1985. Dissertação (mestrado). Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2009.
SCOTTÁ, Luciane. Brazil Builds – repercussão e disseminação da arquitetura moderna brasileira. In: Seminário Docomomo Brasil, 13., 2009, Salvador. Anais eletrônicos […]